O que é deep web e como funciona? Deep Web é como é chamada a camada da internet que não pode ser acessada por meio dos mecanismos de busca, como o Google ou o próprio navegador que você utiliza, seja o Chrome, o Edge ou o Safari. Pelo menos, não sem usar algumas ferramentas.
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Na deep web, nada é indexado, isso é, você não consegue encontrar o que quer apenas digitando “ponto com”. É como se esta parte “oculta” da internet não fosse real para os navegadores comuns. Por causa disso que se usa a imagem de um iceberg para simbolizá-la.
A ponta do iceberg, a parte que fica fora da água, representa tudo o que é indexado por mecanismos de busca – a internet “normal” que a maioria das pessoas usa. A maior parte do iceberg, um colosso subaquático, seria a deep web – profundidades não visíveis a olho nu na rede mundial de computadores.
O que é a deep web?
Na maior parte, a deep web existe, assim como a própria internet, devido à força militar dos Estados Unidos. Neste caso, graças ao Laboratório de Pesquisas da Marinha do país, que criou o The Onion Routing para tratar de propostas de pesquisa, design e análise de sistemas anônimos de comunicação. A segunda geração desse projeto foi liberada para utilização não-governamental, apelidada de TOR e, desde então, vem evoluindo…
Em 2006, TOR deixou de ser uma sigla de The Onion Router para virar uma ONG, a Tor Project. Uma rede de túneis escondidos na internet na qual todos ficam quase que completamente invisíveis. Onion, em inglês, significa cebola, e é dessa forma que a rede se parece, pois, às vezes, é preciso passar por várias camadas para se chegar ao conteúdo desejado.
Os grupos pró-liberdade de expressão são os maiore
s defensores do Tor, pois na rede Onion é possível falar anonimamente e, em tese, não ser interceptado, dando voz a todos, passando por quem luta contra regimes ditatoriais, trabalhadores insatisfeitos, vítimas que queiram denunciar seus agressores… todos.
A ONG já recebeu apoio da Electronic Frontier Foundation, Human Rights Watch e até da National Christian Foundation, mas também recebeu financiamento de empresas como o Google e órgãos oficiais – o governo dos EUA, aliás, é um dos principais investidores.
Quando você acessa um site normalmente, o computador se conecta a um servidor que pode identificar seu endereço IP; no caso do Tor, este não é o caso porque antes que a solicitação chegue ao servidor, entra em cena uma rede anônima de computadores que criam pontes criptografadas até o site desejado.
Por isso, é possível identificar o IP que chegou ao destinatário, mas não a máquina anterior, nem a anterior, nem a anterior etc. Chegar no usuário, então, é praticamente impossível. Também há serviços de hospedagem e armazenagem invisíveis. Assim, o dono da página está seguro se não quiser ser encontrado.
Dark web ou dark net
A deep web tem seus “benefícios”, como a privacidade para troca de conteúdo e informações sigilosas. Porém também tem o lado ruim, cheio de crimes, pornografia, tráfico de drogas e outras ilegalidades. É a parte da deep web chamada de dark web.
Superficialmente, o que parece fazer mais sucesso na dark web é o tráfico de drogas, tanto que existem listas de vendedores recomendados, de acordo com a confiabilidade de cada um. Mas o comércio de armas corre solto, assim como o de contas do PayPal e de produtos roubados – existem lojas específicas para marcas como Apple e Microsoft, por exemplo. Também dá para contratar assassinos de aluguel que possuem valores para cada tipo de pessoa (celebridades, políticos etc.), com preços que vão de US$ 20 mil a US$ 150 mil.
Cibercriminosos e espiões oferecem seus serviços, e há pessoas que garantem fazer trabalhos acadêmicos sobre qualquer assunto, sem copiar de qualquer lugar. Sites promovem turismo sexual e, por menos de US$ 1 mil, prometem buscar o comprador no aeroporto. Outro destaque é a venda de documentos falsos, com páginas que oferecem até cidadania norte-americana. O dinheiro não é utilizado na deep web e poucos negociantes confiam no PayPal. O que realmente é usado é o Bitcoin, uma moeda digital que torna as transações mais seguras.
Por meio de fóruns e redes de comunicação, há a comercialização de todos os tipos de informações que um ataque digital pode ter acesso. E sempre há um público preparado para aproveitar estas informações. A lista dos tipos de dados que podem ser comprados inclui:
- Cartões de crédito roubados com informações detalhadas das vítimas
- Dados pessoais, como nome, CPF, RG, placa do carro, chassi
- Sites falsos idênticos aos sites do banco, destinados a serem usados para phishing, direcionando a vítima a um site falso para roubar informações
- Malware de ponto de venda que infecta os computadores da empresa para roubar informações da empresa e do cliente
- Diplomas falsificados
- Aluguel de ataques DDoS sem você precisar ter sua própria botnet (rede de computadores infectados). Pague US$ 10 por uma hora, US$ 50 por dia ou US$ 400 por mês para derrubar algum serviço ou site online.
Mas se o vendedor e o comprador são obviamente criminosos, como um estabelece a confiança no outro para que haja o pagamento e a entrega da “mercadoria”? Para isso, há algumas ferramentas.
O dono do fórum normalmente age como mediador das transações, levando uma comissão no caminho. Ele recebe o dinheiro do comprador e só o libera para o vendedor depois de haver a confirmação de que tudo aconteceu de acordo com o combinado. Por causa disso também são comuns os casos de sites que, do nada, desaparecem e levam todo o dinheiro de transações que ainda não haviam sido completadas.
Nestes fóruns também é normal haver rankings de confiança. Parecidos com os fóruns da “surface web” que normalmente mostram um índice de reputação por usuário. Se a pessoa é um negociante “honesto” (muitas aspas aqui), ele tende a receber uma boa avaliação para continuar exercendo mais tranquilamente sua atividade.
Chans
Chans, ou “imageboards”, são fóruns de discussão na internet. Eles se destacam pela interface mais simples que a de rede sociais e pela viralização de textos e imagens. É aí que são criados os memes que mais tarde se tornaram populares no Twitter e no WhatsApp.
Nem todo chan (abreviação de “channel”, canal em inglês) está na deep web, porém o que estão lá, é quase exclusivamente porque querem compartilhar conteúdo ilegal. Isso inclui discurso de ódio, de supremacia branca, neonazismo, pornografia infantil, homofobia, misoginia, vídeos e imagens de abuso sexual, de assassinatos e de tortura, além de outros assuntos.
Os chans são divididos em “boards”, que são as seções fixas de cada fórum. Cada seção tem um tema específico, apesar do board de nome “/b/” ser, normalmente, a seção de tópicos variados, onde surgem memes nos fóruns mais superficiais da internet.
Nos chans, os usuários têm um dialeto próprio. Alguns dos termos mais comuns são:
- Anon: “anônimo”, usuário que não se identifica no chan;
- CP: “child porn”, pornografia infantil;
- Falho: pessoas consideradas “fracassadas” por terem pouca vida social ou habilidades de comunicação;
- Incel: “involuntary celibacy”, ou “celibato involuntário”, são geralmente homens heterossexuais que criam rejeição a mulheres por não terem conseguido perder a virgindade;
- Jorge: indivíduo que fracassa na tentativa de cometer atos terroristas;
- Lulz: expressão que representa alegria pelo sofrimento de outras pessoas;
- Raid: ataque hacker coordenado a um site ou fórum rival;
- Sancto/sanctum/Sanctvm: usado como adjetivo para glorificar terroristas.
Tem algo de bom na deep web?
Não é fácil e nem rápido encontrar conteúdos interessantes ali (as páginas demoram para serem carregadas por causa do longo caminho que percorrem até chegarem a sua máquina). No entanto, com a ajuda do Torch, um dos motores de busca da web oculta, ou do Wiki Oculto, diretório da web, você só precisa digitar palavras de interesse para encontrar Conteúdo que vai além de peculiaridades como mutilações e pedofilia. Você deve ter cuidado com suas palavras e atenção ao ler os links listados nos resultados da pesquisa.
No passeio pela deep web dá para encontrar bibliotecas com livros raros, serviços de mensagens instantâneas, cerca de 50 GB de livros sobre religião, psicologia e outros assuntos curiosos, além de acervos de músicas e filmes – dos quais não sabemos a procedência. Há ainda uma espécie de Yahoo! Respostas em que pessoas anônimas perguntam e respondem a uma ampla variedade de tópicos e Status Tor, uma versão privada do Twitter.
Existem muitos fóruns para discutir, desde política internacional até técnicas de programação, porém todos precisam de registro, que pode ser feito através do Tor Mail. É um serviço criado e totalmente mantido sob Onion (nome dado à rede) que tem criptografia aprimorada e segurança máxima. Com este endereço de e-mail, os usuários da DW se identificam em fóruns ou similares. Assim como na web tradicional, a inscrição é gratuita.
Com a alta privacidade, a DW atraiu grupos famosos. Por exemplo, o Wikileaks e o Anonymous levaram documentos secretos para lá. E alguns revolucionários, que participaram da Primavera Árabe, usaram a rede paralela para facilitar a articulação dos rebeldes e complicar o trabalho da inteligência policial. Jornalistas, militares e políticos também se comunicam pela teia misteriosa e acobertam suas ações na rede – o que a torna um local muito mais rico em informações do que se imagina e é comentado.
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